A Codevasf negou ter conhecimento de suposta pressão denunciada pelo ex-superintendente da Codevasf em Juazeiro (BA) o engenheiro Miled Cussa Filho que disse que após colaborar com investigação sobre irregularidades em convênios foi assediado e pressionado pelo presidente da estatal, Marcelo Moreira.
O engenheiro revelou ao portal Uol que o estopim dos desentendimentos que levaram à sua demissão foi um ofício enviado à Prefeitura de Campo Formoso (BA) em 17 de abril em que cobra explicações sobre suspeitas de irregularidades. Antes de ser exonerado, ele chegou a enviar ofícios à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao Ministério Público Federal (MPF) com informações sobre os convênios em 8 de maio.
Ele [Moreira] achou que os ofícios foram muito contundentes, disse que eu agi muito levado pela opinião da área técnica, do jurídico, da equipe de engenharia. Que não era necessário enviar aquilo”, contou Cussa Filho.
O desligamento, segundo a Codevasf, “buscou ampliar garantias de transparência e integridade para os processos de apuração”. Além de informar não ter conhecimento de pressão contra o superintendente, a estatal disse ainda que a exoneração não ocorreu por conta de nenhuma retaliação.
O motivo, segundo a Codevasf, foi por ter sido verificado a “participação de representantes de empresa privada em reunião — na Superintendência e com a presença do ex-superintendente — sobre um convênio da Codevasf com a Prefeitura, o que não era de conhecimento da direção da Companhia. O ex-superintendente homologou o processo licitatório vencido posteriormente pela empresa representada na reunião”.
A estatal ainda diz que “não há denúncias nos ofícios remetidos pelo ex-superintendente à CGU e ao MPF, mas simples exposição de fatos” e que “o ex-superintendente foi informado no dia 5 de maio de que seria desligado da Companhia. Os ofícios foram enviados por ele àqueles órgãos dias depois, em 8 de maio”.
Os convênios firmados com a Prefeitura, ainda segundo a Codevasf, foram encaminhados para auditoria especial em 6 de maio, também antes do envio dos ofícios pelo ex-superintendente. A empresa nega também qualquer relação com a empresa contratada pela Prefeitura.
É uma tentativa de inverter a situação. Quem está sendo investigado é ele [Moreira], é ele que deveria sair”, rebate Cussa Filho.
A suspeita de fraude à licitação em convênios da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) em Campo Formoso está sendo apurada pela Operação Overclean, da Polícia Federal (PF). A cidade baiana tem como prefeito Elmo Nascimento (União), irmão do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA). A indicação de Moreira para presidente em 2019, assim como a de Cussa Filho a superintendente foram feitas por Elmar Nascimento, que tem influência na Codevasf.
Cunha Filho nega que tenha sofrido alguma pressão de Elmar, enquanto esteve no cargo. “Não sofri pressão em nenhum momento antes, e também não sofri pressão do deputado. O presidente é que tomou as rédeas desse processo usando o nome de outras pessoas”, continuou.
Em nota, a Codevasf disse ainda que “mantém colaboração com órgãos de controle e assegura acesso integral a seus processos para apurações e esclarecimentos”.