“Falta dinheiro para professor, mas sobra para contrato suspeito”, critica Solla após operação da PF contra Prefeitura de Salvador
Deputado aponta contradição entre os escândalos na saúde e o abandono de servidores municipais em greve
O deputado federal Jorge Solla (PT‑BA) criticou duramente mais um escândalo envolvendo a gestão do prefeito Bruno Reis (União Brasil). A declaração vem após a deflagração da Operação Dia Zero, pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, que investiga um esquema milionário de desvio de recursos da saúde, com contratos firmados pela Secretaria Municipal de Saúde ao longo de quase uma década.
“Falta dinheiro pra pagar o piso dos professores, pra manter postos de saúde funcionando e comprar insumos. Mas para contratos milionários com organizações sociais, muitas sob suspeita, nunca faltou. A conta não fecha”, disparou Solla.
A operação incluiu o afastamento de servidores, mandados de busca e apreensão em Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e Maceió, além do bloqueio de bens dos investigados.
A crítica do parlamentar também se estende à condução da gestão municipal diante da greve dos professores, que já dura mais de 35 dias e paralisou cerca de 77% das escolas públicas da rede municipal. Os educadores cobram o pagamento integral do piso nacional do magistério e melhores condições de trabalho. Em vez de negociar, a Prefeitura recorreu à Justiça para tentar suspender o movimento, obtendo decisões que preveem multa de até R$ 100 mil por dia contra o sindicato da categoria.
“Os professores estão nas ruas porque têm que escolher entre trabalhar e sobreviver. Enquanto isso, quem deveria cuidar da cidade responde a escândalos na saúde. A Prefeitura está sem comando, sem prioridades e sem respeito pela população”, afirmou o deputado.
A paralisação dos servidores da saúde e da assistência social também afeta serviços essenciais. Na última semana, por exemplo, apenas 61 dos 160 postos de vacinação da cidade estavam funcionando — um reflexo direto da falta de diálogo com as categorias.
Segundo a PF, o esquema desmantelado pela operação envolvia o direcionamento de contratos milionários para organizações sociais. Parte dessas entidades já havia sido citada em apurações anteriores, como a Operação Overclean, deflagrada em 2023 para investigar desvio de emendas parlamentares por meio de entidades contratadas por prefeituras.
Os indícios apontam para um modelo recorrente de privatização e terceirização que facilita fraudes, sem o devido controle social.
“Esse é um modelo que transforma a saúde pública em balcão de negócios. Não há controle, não há transparência e, pior, há conivência. O povo paga o preço da irresponsabilidade e do descaso”, completou Solla.
