Escritora e Youtuber Bruna Vieira fala sobre passado, presente e futuro nesta entrevista exclusiva na Flica de Ilhéus

(Por Vera Rabelo e Lara Rabelo) – A escritora, blogueira e youtuber Bruna Vieira comanda, na tarde desta sexta-feira (15/11), a mesa “Entre Palavras e Imagens: Conectando Literatura e Audiovisual”, no Espaço Juventudes da Festa Literária de Ilhéus (FLI).

Sua presença deve atrair o enorme público que a segue na redes sociais, onde tem 1,6 milhão de seguidores no Instagram e 1,3 milhão no YouTube. Uma legião de fãs que transformaram livros como ‘De Volta aos Quinze’ em enormes sucessos. Lançado em 2013, a obra faz parte da trilogia que ela começou a escrever com apenas 18 anos e deu origem à famosa série homônima da Netflix, que impulsionou sua carreira internacional. Pioneira na vertiginosa ascensão dos blogs e influenciadores das redes sociais, no começo da década de 2010, Bruna recebeu o Rede Sul Bahia, durante sua passagem pela terra de Jorge Amado, para uma agradável conversa sobre as confluências entre a produção de conteúdos digitais e a criação de livros. Confira a entrevista:

Rede Sul Bahia – O que te fez começar a escrever e o que te motiva a continuar?

Bruna Vieira – Comecei a escrever principalmente para conseguir entender meus próprios sentimentos. Por vezes me sentia solitária e invisível, mas quando eu escrevia, era como se as pessoas finalmente conseguissem me enxergar de verdade. Colocar em palavras sensações que ainda eram tão abstratas, mesmo com tão pouca experiência de vida, me ajudou a atravessar o período da adolescência ressignificando traumas, medos e insegurança. Na internet eu entendi que nenhuma experiência é individual, e isso deixou o mundo aqui fora um pouco mais convidativo pra mim. Eram outros tempos, claro.

Quando você é adolescente você quer muito fazer parte de algo. Essa é a prioridade. Como eu não tinha as ferramentas sociais para fazer isso no colégio, criei esse algo virtualmente. O Depois Dos Quinze era meu diário virtual e a comunidade que se formou foi aumentando com o passar dos anos e se unindo com os lançamentos dos livros.

Penso que todos nós criamos narrativas para enfrentar nossos dias, os bons e os ruins. O mundo que enxergamos é uma criação do nosso cérebro, então eu tento sempre colocar em palavras toda vez que algum acontecimento desperta um sentimento novo em mim. Quem sabe essas palavras não ajudam outras pessoas que estão querendo ir na mesma direção, mas ainda não sabem bem o caminho.

Rede Sul Bahia – Quais foram suas influências literárias antes de escrever o primeiro livro?

Bruna Vieira – Meu encantamento por livros começou quando entendi que podia viver muitas vidas em uma só. Que a minha timidez era na verdade um excelente combustível para a imaginação, porque o silêncio me fez sempre ter um olhar mais atento e sensível ao mundo. Alguns autores que influenciaram meu trabalho desde sempre são Antônio Prata, Sérgio Klein, Tati Bernardi, Martha Medeiros, Cecília Meireles e Clarice Lispector.

Rede Sul Bahia – Você começou como blogueira e depois se projetou como escritora de livros que geraram séries de televisão. Hoje, qual expressão criativa mais te agrada, a literatura ou os conteúdos digitais?

Bruna Vieira – Por um tempo eu senti que vivia uma vida dupla. Como se eu precisasse acessar partes diferentes de mim para conseguir criar para internet e para o universo literário. Aí eu entendi que a escrita será sempre meu início comum e natural. Antes de ligar a câmera, eu escrevo. Antes de escrever o livro, eu penso na capa. Como artista me considero bastante visual e gosto de uma estética que instiga e satisfaz os olhos, então não sei se sou capaz de escolher entre as duas carreiras porque cada uma tem seu charme. De certa forma, uma sustenta a outra. Através da internet conquistei meus primeiros leitores e através dos livros me conectei para sempre com essas pessoas.
Escritora e blogueira Bruna Vieira na Festa Literária de Ilhéus – Foto Lara Rabelo

Rede Sul Bahia – A série ‘De Volta aos Quinze’ fascinou milhões de jovens com a possibilidade de deslocamento no tempo para editar o passado, corrigir erros e se reconectar com relações perdidas. O público pode esperar novas abordagens no último livro da trilogia, “De Volta para Mim”?

Bruna Vieira – Meu desafio no livro “De Volta para Mim” foi continuar a história da Anita respeitando todos os fãs do livro que eram adolescentes em 2013 e cresceram comigo e também os novos leitores que conheceram o universo agora através da série da Netflix.

Essa é uma história nostálgica que usa a viagem no tempo como ferramenta para lidar com traumas do passado, e quando eu a criei confesso que imaginei que seria principalmente sobre autodescoberta. Com a série ela se transformou em muito mais. Uma narrativa que tem a força de ajudar uma geração a entender a outra. Famílias assistiram “De Volta Aos 15” na sala de casa e os episódios incentivaram conversas que provavelmente aconteceriam em outro contexto, sabe? Sobre diversidade, luto, solidão e a importância da comunicação entre pessoas que se gostam.

Quero que o terceiro livro, que fecha a história nos livros, consiga continuar fazendo isso. Estou animada demais pra saber o que as pessoas vão achar das novas aventuras da Anita já que agora ela não viaja mais no tempo sozinha.

Rede Sul Bahia – Quais conselhos você daria para jovens que querem começar na literatura, especialmente levando em conta a predominância de conteúdos com vídeos na internet?

Bruna Vieira – A escrita pode e deve ser o ponto de partida. Essa ideia de que você precisa fazer uma coisa ou outra não me agrada muito. É limitante e coloca o algoritmo na frente de tudo. Quando você trabalha com o audiovisual e entende todos os processos que envolvem uma grande produção, você percebe como é importante ter o texto bom para que o seu vídeo de fato passe uma mensagem e não apenas seja replicado.

Sei que existem conteúdos diversos na internet e que muitos deles são reproduções de outros vídeos, mas eu tento sempre buscar um propósito e me preocupar com a mensagem que os conteúdos passam. Nosso tempo é o bem mais precioso, e mesmo com os vídeos cada vez mais curtos, parece que temos cada vez menos tempo.

Há muitas formas diferentes de falar sobre literatura, de contar histórias ou começar novas narrativas através das redes sociais. Construir uma comunidade. Ser interessado e interessante na mesma proporção. Esse é o meu maior conselho pra quem tá começando agora.

Rede Sul Bahia – Por último, pode falar sobre o que espera dessa experiência em Ilhéus? O que mais gostou na cidade?

Bruna Vieira – Estou bastante animada para viver a FLI pela primeira vez. Já estive na Bahia outras vezes, mas nunca em Ilhéus. Espero conhecer meus leitores já sabendo da sensação de que vivemos muitas vidas diferentes juntos através dos livros. Nas filas de autógrafos eu já nem falo “prazer em te conhecer”, sabia? Eu digo “que bom que agora o nosso encontro foi pessoalmente”. Mágica essa coisa de escrever livros, né?!
Fotos Lara Rabelo

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