Influenciadores baianos falaram sobre processo criativo, agradeceram ao evento pela sensibilidade de os reconhecerem como produtores de textos e responderam às perguntas de um público diverso e ávido por interagir com a dupla
O sol esquentou a tarde de ontem (19) em Cachoeira e empolgou a galera da Geração Flica, que lotou o Cine Theatro Cachoeirano. Atrações muito esperadas na FLICA 2024, os influenciadores baianos Matheus Buente e João Pimenta, que possuem milhares de seguidores nas redes sociais, fizeram jus à expectativa e apresentaram um show leve e cheio de baianidade, mesclando altas doses de humor crítico e dicas culturais. A plateia se divertiu bastante e interagiu com os humoristas, que fizeram uma sessão extra para atender a todo o público presente no local.
O charme do Cine Theatro Cachoeirano, que foi construído em 1922, aliado a um cenário colorido e aconchegante, foi o palco perfeito para o público se divertir com o humor ácido, rápido e inteligente da dupla de baianos. Para fazer o link com o evento em si, Pimenta foi preciso: “A gente preparou um materialzinho de referências sobre questões literárias, porque a literatura não está só no livro, né? Como roteirista e com experiência no mercado publicitário, é bacana falar sobre o assunto para uma galera que tem interesse em começar a escrever e trampar com isso”, destaca.
Professor de História e craque do stand up comedy, Matheus Buente comemora a terceira participação dele em edições da FLICAa. “É muito bom vir para outra cidade e se sentir querido, principalmente em Cachoeira, que tem um valor histórico tão grande e é uma cidade com personalidade. A gente não tem livros publicados, mas escreve muito, porque o comediante vive de texto, né? Nós levamos a oralidade para o palco, mas tudo começa na caneta e no papel. Então, é muito bom se sentir respeitado e considerado em um espaço como esse”, ressalta.
Durante a apresentação para uma plateia atenta, os humoristas demonstraram entrosamento e desenvoltura na condução, arrancando risos e plantando reflexões ao mesmo tempo. “Um dos meus primeiros contatos com a leitura é a coleção Paraíso da Criança. Isso me ajudou demais, porque foi a primeira relação que eu tive com lendas do nosso país e estes livros, além de extremamente ricos, fazem você entender o conteúdo e, com isso, absorver a leitura”, afirma Pìmenta, que é natural de Pojuca e começou a fazer humor em 2005 em um projeto social da cidade.
Habilidoso na arte de misturar humor e crítica social, Pimenta, que já fez parte do elenco de Porta dos Fundos, acredita na importância de se posicionar ante as questões da sociedade contemporânea. “Ser isento é uma coisa muito chata, é uma vida muito cômoda, e eu acho que vai chegar um momento em que a oportunidade não vai poder mais dizer não pra gente, eles vão ter que aceitar que a forma que o mundo está cobrando por mudança, é preciso mudar a cabeça, o pensamento e o comportamento”, diz.
Uma das sugestões de Matheus Buente foi a Antologia da Literatura Fantástica, um livro de contos organizado por Adolfo Bioy Casares, Silvina Ocampo e Jorge Luis Borges. “É um ótimo exercício, tanto para a galera que não tem uma proximidade muito grande com a literatura, para poder começar a apreciar e desenvolver isso, quanto para quem é que nem eu, que se perde no meio da leitura. Essas leituras menores me ajudaram muito na questão de construção de roteiro e sintetizar idéias”, afirma o humorista, que começou a ficar famoso ao adotar métodos mais descontraídos nas aulas de História.
Buente também trouxe reflexões acerca da importância da representatividade no universo das obras de audiovisual produzidas para cinema e televisão. “Não adianta colocar uma galera de fora para contar e interpretar uma história que acontece na Bahia. Se a história acontece aqui, ela deve ser contada pelas pessoas daqui. Mas, para isso, é preciso que o investimento chegue nas mãos de quem sabe fazer. O sucesso de Ó Paí Ó é fruto disso: atores e atrizes baianas em condições propícias de contar a sua história”, pontua.
FLICA – Na edição 2024 da FLICA, os principais espaços são a Tenda Paraguaçu, Fliquinha e Geração Flica, além da programação artística, dividida entre o Palco Raízes e o Palco dos Ritmos. Todos os espaços têm indicação etária livre e contam com acessibilidade, tradução em libras e audiodescrição. A curadoria da FLICA é formada por Calila das Mercês, Emília Nuñez, Deko Lipe e Linnoy Nonato. A Coordenação Geral é assinada por Vanessa Dantas, CEO da Fundação Hansen Bahia.
A 12ª FLICA é uma realização da Fundação Hansen Bahia (FHB), em parceria com a Prefeitura de Cachoeira, LDM (livraria oficial do evento), CNA NET (internet oficial do evento) e conta com o apoio da Bracell, ACELEN, Bahiagás, Governo do Estado da Bahia, através da Bahia Literária, ação da Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura e da Secretaria de Educação, Caixa e Governo Federal.