BookTok: geração Z e a democratização do acesso à literatura

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Por: Beatrice Magalhães

63 bilhões. Esse é o número de visualizações do #booktok. O fenômeno do aplicativo de vídeos curtos “TikTok” se estende por múltiplos setores da sociedade, inclusive na literatura.

O desempenho impressionante do #booktok, que se transformou numa subcomunidade de conteúdo literário do aplicativo, vem mudando o perfil dos leitores e ampliando de modo exorbitante as vendas no setor. Um espaço feito pelos jovens para os jovens não poderia ser diferente: milhões de leitores preenchem a hashtag com resumos divertidos, encenações, listas de recomendações e as famosas trends com suas obras e sagas preferidas.

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De acordo com o 11º Painel do Varejo de Livros no Brasil, realizado pela Nielsen BookScan e divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), as vendas cresceram 33,03% em volume e 31,14% em valor no acumulado de janeiro a novembro de 2021, em comparação ao mesmo período de 2020.

Durante o período de isolamento social decorrente da pandemia do CoronaVírus, o BookTok ofereceu refúgio à inúmeros adolescentes e jovens que encontraram na literatura um lugar de conforto e acolhimento em tempos de grandes incertezas e perdas. Segundo a mesma pesquisa, houve um crescimento na proporção de leitores na população nos últimos dois anos, com protagonismo da faixa etária de 18 a 29 anos, que passaram de 63% para 72% no período de apenas um ano.

Esse público se interessa majoritariamente por gêneros como fantasia, suspense e young adult, com personagens LGBTQIA+ e pertencentes a outras minorias, isto é, leituras que englobem representatividade, e tramas com reviravoltas chocantes. “São livros que causam emoções diversas nos leitores. Livros que fazem chorar, por exemplo, são enormes lá! Romances e fantasia também são muito populares entre os leitores, ainda mais se tiver representatividade” comentou a booktoker Maju Alves.

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“Os sete maridos de Evelyn Hugo”, “Vermelho, branco e sangue azul”, “Mentirosos”, “É assim que acaba”, “O príncipe cruel” e “Corte de espinhos e rosas” são exemplos de títulos recorrentemente recomendados no BookTok. Cada um, com suas particularidades, numa realidade fantasiosa ou não, foi capaz de criar um sentimento de identificação e acolhimento no jovem do século XXI.

Esse movimento de democratização proporcionado pela facilidade de acesso e uma linguagem mais adequada com o público, possibilita que, mesmo aqueles que não conseguem acompanhar um conteúdo literário mais rebuscado e incompatível com a fluidez e ritmo acelerado da contemporaneidade, possam usufruir dos prazeres de mergulhar no universo de um livro. A internet apenas amplifica esse processo.

O distanciamento entre as leituras atuais e as obras clássicas, como, por exemplo, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” de Machado de Assis, faz com que um grupo seleto de apreciadores inflexíveis de literatura tradicional busque manter a crença de que os livros contemporâneos, do agrado da juventude, pouco acrescentam à cultura. Isto é um grande equívoco. Independente dos gostos, seja “O alienista” ou “Uma Farsa de Amor na Espanha”, é necessário respeitar as particularidades.

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Entrar em universos fantasiosos e mágicos, como em “Harry Potter”, viajar para a Grécia Antiga, como em “A canção de Aquiles”, ou desvendar mistérios, como em “Um de nós está mentindo”, permitiu que a geração Z se interessasse pela prática da leitura. Assim, a ficção tornou-se um espaço de proteção contra as dores e incertezas da vida fora das estantes de livros e, ao mesmo tempo, vem ensinando a lidar com o mundo real. O que prova que compreender a literatura jovem como não agregadora à arte é um pensamento ultrapassado e excludente.

A literatura é capaz de transformar vidas. Ver as novas gerações imergindo nesse universo é um sinal de esperança de que o que nos aguarda no futuro será melhor e mais acolhedor do que a dolorosa atual “vida real”.

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