O proprietário da rede de supermercado Atakadão Atakarejo, Teobaldo Costa, não compareceu mais uma vez à reunião conjunta das comissões de Reparação e de Direitos Humanos, presidida pelos vereadores Suíca e Marta Rodrigues, respectivamente, para tratar do caso dos jovens negros Bruno e Ian Barros da Silva, 29 e 19 anos, detidos supostamente furtando carnes em no Atakarejo de Amaralina e que foram que apareceram mortos com sinais de tortura após serem entregues por seguranças da loja a membros do tráfico de drogas do Nordeste de Amaralina.
O caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa. O inquérito, previsto para terminar no último dia 16 de junho, foi prorrogado por mais 30 dias, segundo apurou o OFF News.
A alegação de que Teobaldo não poderia comparecer por “questões legais”, haja visto que o “processo corre em segredo de justiça”, usada para explicar a ausência do empresário na reunião das comissões em maio, deu lugar a uma justificativa de que o proprietário da rede de atacadista “está afastado da diretoria executiva do Atakadão Atakarejo desde abril de 2020; Desde essa data, o sr. Teobaldo não representa mais a empresa e passou a integrar nosso Conselho Administrativo”.
Coincidentemente, o mês em que Teobaldo Costa se afastou do comando da rede da qual criou, segundo comunicado enviado pelo diretor comercial do grupo às comissões, Milton Amorim, é o mesmo em que dois jovens negros foram torturados em um espaço reservado para funcionários em um de seus supermercados.
A vereadora Marta Rodrigues (PT), líder da Oposição e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, avalia que o comportamento evasivo do proprietário da rede é uma estratégia para dissociá-lo do acontecimento enquanto dono da rede Atakarejo.
“É uma tentativa de não querer se comprometer, e coloca o diretor comercial para assinar o documento. É algo muito desrespeitoso e violento. O fato ocorreu no estabelecimento dele. Ele fica botando notas pagas caras em horário nobre na TV e não aparece, não bota cara em nada, é uma coisa que não pode acontecer”, criticou Rodrigues.

Por força da similaridade, a vereadora compara o caso com o ocorrido na rede Carrefour em 2020. Um homem negro foi morto após ser espancado por seguranças do estabelecimemto. Por força da repercussão, o presidente da rede de varejo global no Brasil gravou um vídeo pedindo desculpas aos consumidores.
“Teobaldo não gravou um vídeo pedindo desculpas. Eles tentam dissociar o caso do grupo deles. No segundo parágrafo que enviou ele lamenta o ocorrido no bairro do Nordeste de Amaralina, nem cita que o ocorrido teve início em sua loja. Estão querendo tirar a responsabilidade deles e colocar nos funcionários. Não tem como, eles estavam cumprindo regras. Alguém chamou para alguém pegar porque já havia essa leniência”, sinalizou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
Alvará
Diante da negativa em se fazer presidente nas reuniões, os vereadores decidiram solicitar ao município a cassação do alvará do supermercado, baseado no artigo 62 do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa.
“O racismo pode ser tipificado como crime penal. Como disse a ministra Cármen Lúcia, ‘a singularidade de cada ser humano não é pretexto para a desigualdade de dignidades e direitos, e a discriminação contra uma pessoa atinge igualmente toda a sociedade’. Embora o estatuto tenha dois anos esperando regulamentação, isso não pode ser justificativa para não o fazer ser cumprido. Embora aguardemos ansiosos o desfecho da investigação criminal, a Prefeitura deve usar do seu poder de polícia e punir os culpados administrativamente”, cobrou Suíca.

O artigo citado pelo vereador do PT diz: “Independentemente da ação dos outros poderes e entes da Federação, a Prefeitura de Salvador penalizará, dentro dos limites constitucionais da sua competência, todo estabelecimento comercial, industrial, entidades, representações, associações, sociedades civis ou de prestações de serviços que, por atos de seus proprietários ou prepostos, discriminem a pessoa em razão de sua cor ou etnia”.
Reparação
A líder da Oposição promete seguir realizando audiências públicas para tratar do tema. Ela avalia que após o processo penal, o Atakadão Atakarejo enfrentará ações reparatórias, tal como ocorreu com o Carrefour, por parte da Defensoria Pública da Bahia pelo Ministério Público da Bahia.

Segundo Marta Rodrigues (PT), o ato de racismo, flagrante no ocorrido, não pode ficar impune. Ela avalia que, ao faltar diversos convites para prestar esclarecimentos, a impressão passada pelo Atakarejo à sociedade é de que o assunto não é importante.
“Acho que eles…. E que o diretor colocou na resposta padrão, que estão prestando todas informações, e que não concordam com a violência, é sinal de que não querem construir algo de forma coletiva, ouvir os atingidos. Na primeira reunião a mãe dos meninos participou e Teobaldo não apareceu e o Atakarejo não enviou ninguém. É um desrespeito com nós da comissão, que estamos trabalhando para o caso não cair no esquecimento, e com a sociedade, que espera justiça”, desabafou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Salvador.
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