João Vilas Boas é graduado em Ciência Política, com MBA em Gestão Pública e coordena a comunicação do deputado estadual Júnior Muniz
Em 2024, o pleito traz consigo a possibilidade da escolha de vereadores e prefeitos, personalidades políticas que atuam em maior proximidade e contato com a população, durante os próximos 04 anos. Nesse ínterim, é comum que, durante reuniões presenciais, atos de comício ou até mesmo no horário eleitoral gratuito, escutemos promessas, planos e propostas utópicas ou generalistas.
Segundo João, o eleitor está cada vez mais vacinado contra propostas meramente eleitoreiras. “A população está cada vez mais desconfiada e pondo em descrédito quando recebe a visita de determinado candidato que promete fazer uma mega transformação em determinado bairro.”
Para embasar sua teoria, o cientista político traz uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos em 2022, apontando que seis a cada dez brasileiros dizem acreditar que partidos e políticos não se importam com a população.
Portanto, Vilas Boas elenca três pilares fundamentais para que o candidato se apresente com um discurso que promova credibilidade e, sobretudo, transmita confiança ao seu possível eleitor.
Storytelling
Muito utilizada para produção de filmes aclamados pela crítica, o storytelling nada mais é do que ter uma narrativa forte, envolvente e que retenha o espectador.
Na política, João destaca que é importante que o candidato busque elementos em sua história de vida ou na sua trajetória política que conectem aos seus possíveis eleitores. Se, porventura, o candidato é de origem humilde, ele precisa destacar as dificuldades que vivenciou, como conseguiu superar aquilo e, principalmente, a importância de conhecer a dor que o outro também sente.
“Enquanto acompanhava as agendas do ex-governador e agora ministro da Casa-Civil, Rui Costa, percebia que no momento em que ele abordava, de forma detalhada, sobre a sua infância sofrida no bairro da Liberdade, o público ao seu redor sentia-se representado, emocionado e conectado com a mensagem. Portanto, a mensagem política que fosse passada após a narração da sua história particular, seria também muito bem internalizada por todos”, exemplifica João Vilas Boas.
Troque o discurso clínico pelo especialista
O clínico é aquele que examina e encaminha. O especialista sabe como resolver. Se o seu nicho de atuação engloba a área da educação, é irrisório apenas apontar que irá “trabalhar para mudar a educação do município”.
Segundo Vilas Boas, é preciso trocar o discurso clínico pelo especialista, apontando claramente o que fazer e quais os benefícios de uma determinada obra ou intervenção. “Um exemplo é anunciar que pretender construir uma creche em tempo integral, em determinado bairro, com capacidade para certa quantidade de crianças, possibilitando a prática de esportes após o período de estudos, para que assim os pais possam deixar seus filhos em um ambiente de conforto, deslocando-se para seu trabalho sem preocupação com a violência”, descreve.
João Vilas Boas aponta que quando a proposta é passada de forma segmentada e detalhada, a transmissão de confiança no subconsciente do eleitor é ativa.
Pertencimento
“Quem não vive para servir, não serve para viver” é uma frase que faz parte do meu cotidiano, diz João. Portanto, é preciso que os candidatos transmitam um senso de pertencimento, de coletividade, apontando que não é possível fazer nada sozinho, afinal, até para o primeiro ato de vida – o nascimento, é preciso a presença de alguém.
João rememora mais um exemplo prático: a campanha presidencial de Barack Obama, que trazia o lema “Yes, We Can!” (em português: Sim, Nós Podemos), que foi um motor propulsor para sua vitória naquele pleito.
Portanto, o segredo da composição de uma boa proposta não está na formulação de propostas mirabolantes ou no excesso de linguagem técnica, afinal, quem fala de forma rebuscada, dificilmente consegue transmitir a sua mensagem para todos os públicos.
Em conclusão, a tríade para a formulação de uma boa proposta, em síntese, envolve: uma boa narrativa (Storytelling), que sensibiliza o eleitor; um discurso de proposta bem detalhado, que motiva o eleitor a acreditar em seu projeto e, por fim, o senso de pertencimento de que tudo aquilo será feito de forma coletiva, com o apoio (etapa de mobilização, em que passam a vestir a sua camisa) dos eleitores.