A CPI Covid-19, aberta pelo Senado Federal após determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, acolhendo pedido dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO), em um momento onde o Brasil bate recorde de mortes provocadas pelo coronavírus, poderá aumentar o desgaste e a pressão sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é o que avalia os cientistas políticos ouvidos pelo OFFNews.
“Neste momento, é uma CPI que, caso o governo tenha dificuldade de manobrar, pode causar um grande estrago. As ações políticas de Bolsonaro na pandemia, o boicote às medidas de isolamento, suas decisões atabalhoadas, confusas, a exemplo do uso cloroquina e a compra para estoque, as negociações não realizadas para compra das vacinas, podem prejudicá-lo. CPI é aquele negócio, a gente sabe como começa mas não sabe como termina”, explica o cientista político e professor da Unilab, Cláudio André.
O cientista político e professor universitário avalia que “existe margem de manobra para esvaziar CPI”, coisa que será colocada em prática pelo presidente da República, já que conta com dois aliados no comando das Casas que formam o Congresso Nacional.
André destaca que essa CPI deixará o presidente da República ainda mais vulnerável e o Centrão mais fortalecido, em um momento onde há uma queda de braço entre eles acerca do corte de R$ 36 bilhões reservado para emendas no Orçamento Federal.
“Para que a CPI não tenha um futuro promissor, evitando assim um desgaste do governo, a agenda paralela de negociação, em curso, que envolve os R$ 36 bilhões do Orçamento, terá que ter um desfecho favorável ao Congresso. É algo muito sensível, em um ano pré-eleitoral, reduzir emendas. Essa manobra no Orçamento garante o atendimento dos interesses das bases eleitorais dos congressista”, destacou Cláudio André.
Cláudio acredita que o foco agora é na composição da CPI da Covid-19, quem será o relator e o presidente, e quais manobras serão feitas pela oposição e pelo governo. Ele acredita que pesará a favor de Bolsonaro o fato de ter um aliado contrário à CPI presidindo o Senado Federal. Ele lembra que uma comissão de inquérito gera uma “instabilidade política”, para o governo, pois “toda máquina estatal ficará sob fogo cruzado” em “um momento difícil, de pandemia descontrolada e com recorde de mortos”.
O doutor em História e professor da UFBA, especialista em história política, Carlos Zacarias, classifica CPI da Covid-19 como “necessária”, embora ela seja “tardia’.
“É uma CPI necessária, porque é preciso responsabilizar quem tem culpa sobre a má gestão da pandemia. Nós estamos com quadro desolador e em dois dias, nesta semana, tivemos mais de 4 mil mortos e estamos com média móvel de mais de três mil mortos no Brasil. O país está na contramão do mundo é um celeiro de covid-19, um Covidário, como alguns dizem”, pontuou Zacarias.
O especialista em história política aponta que o presidente da República, Jair Bolsonaro, é o principal culpado pelo descontrole da pandemia no país, e logo, o principal a ser responsabilidade ao cabo da CPI.
“É um quadro catastrófico e é preciso apurar as responsabilidades que do meu ponto de vista já tem uma figura que é, por si só, o maior causador disso: Bolsonaro; Ele negou a pandemia, a ciência e aquilo que as autoridades sanitárias diziam, buscou atrapalhar a atuação dos governadores e prefeitos que ouviram a ciência e as autoridades sanitárias, o MS. Bolsonaro fez tudo ao contrário do que se devia fazer e não é à toa que nós estamos caminhando para 350 mil mortos e, possivelmente, vamos chegar aos 400 mil mortes”, criticou Zacarias.
O doutor em História acredita que o presidente do Senado, por ter sido eleito por Bolsonaro e por ter se manifestado contra abertura da CPI para investigar o comportamento do governo federal na Pandemia, atuará para fornecer uma blindagem institucional: “Em princípio nós sabemos da blindagem que Bolsonaro tem [no Congresso Nacional]; blindagem essa que ganhou o reforço de setores do empresariado que o aplaudiram essa semana [em referência ao jantar de Bolsonaro com empresários bilionários]”.
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