O filósofo e ativista Ailton Krenak apresentou seu novo livro, Kuján e os meninos sabidos, em dois encontros com o público da sétima Festa Literária de Ilhéus (FLI), nesta quinta-feira (14), no Centro de Convenções. De manhã, às crianças; e à noite, na roda de conversa A natureza do tempo presente. Escrita em parceria com a escritora e atriz Rita Carelli, a obra recupera a história da criação do mundo, segundo a tradição dos Krenak, povo originário da região norte de Minas Gerais.
“Os meninos sabidos são dois menininhos mágicos. Na maioria das nossas histórias antigas, os nossos outros povos também, os guarani, até os yanomami, eu observei que todos os nosso mitos de origem têm menininhos sabidos. E os menininhos sabidos, coincidentemente, costumam ser gêmeos. Esses gêmeos sabidos estão na origem dessa tal de humanidade”, iniciou Ailton Krenak.
Na história, Roti e Cati notaram que os parentes Krenak iriam fazer uma grande festa no terreiro da aldeia e saíram juntos com os adultos para caçar. Quando os caçadores já tinham pegado vários bichos e estavam com os balaios cheios, apareceu um tamanduá.
Na hora em que os caçadores investiram contra a presa, Roti e Cati, meninos sabidos, perceberam que o tamanduá era um ancião krenak. “As crianças estavam vendo que o tamanduá era um ser encantado, que coincidia com aquela entidade que criou este mundo”, acrescentou Ailton, primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Para salvar Kuján, que estava disfarçado de tamanduá, os gêmeos o pegaram em um laço de cipó, e os caçadores permitiram que as crianças o levassem para a aldeia como um brinquedo. A salvo, Kuján se transfigura em gente, e Roti e Cati confirmam que se tratava de um avô.
Foi assim que ele, Kuján, teve a oportunidade de transmitir sabedoria aos Krenak, ensinando-o todos os elementos de sua cultura. “Ele ensinou essa gente humana a fazer casa, barco, canoa, arco, flecha, brincar, cantar, dançar. Quer dizer, tudo que é cultura quem doou para nós foi o tamanduá”, concluiu Ailton Krenak.
DEMARCAÇÃO JÁ!
Mediada pela filósofa e escritora Elisa Oliveira, a roda de conversa também contou com a participação do professor Casé Angatu (Alma Boa), indígena xukuru radicado no Território Indígena do Povo Tupinambá de Olivença e professor de História da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).
Diante do grande público que lotou o estacionamento do Centro de Convenções, Casé fez um apelo para que a plateia se engajasse na luta pela demarcação do Território Tupinambá, que se estende por porções dos municípios de Ilhéus, Buerarema e Una.
ÚLTIMO DIA DA FLI
Iniciada na quarta-feira (13), a sétima Festa Literária de Ilhéus termina hoje (15). Na programação desta sexta, o escritor moçambicano Mia Couto vai se reunir com o público no Palco Externo, às 18h. O encontro seria no Espaço Jorge Amado, mas mudou de local para acolher melhor os visitantes, que devem lotar, mais uma vez, o estacionamento do Centro de Convenções. Outra participação muito esperada é a do cantor Silvanno Salles, que se apresenta às 21h30min, no encerramento da 7ª FLI.
Com total acessibilidade, todas as atrações têm tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e são introduzidas por audiodescrição. Os espaços também foram preparados para acolher pessoas com dificuldade de locomoção.
A 7ª Edição da FLI – Festa Literária de Ilhéus é uma realização da Sarça Comunicação, tem a LDM como editora Oficial do evento, parceria com a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) e conta com o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), do Governo do Estado da Bahia, através da Bahia Literária, ação da Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura, da Secretaria de Educação e da Secretaria de Turismo.
Reportagem: Thiago Dias