No Dia Internacional para a Abolição da Escravidão, celebrado mundialmente em 2 de dezembro, a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice da Comissão de Reparação, vereadora Ireuda Silva (Republicanos), reforçou a importância de reconhecer e enfrentar as persistentes desigualdades que decorrem de séculos de exploração e desumanização da população negra. Para ela, embora a escravidão tenha sido formalmente abolida, seus impactos estruturais continuam evidentes no Brasil, um dos últimos países das Américas a extinguir oficialmente o regime escravocrata.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 50 milhões de pessoas ainda vivem em condições análogas à escravidão no mundo, incluindo trabalho forçado, casamentos infantis e tráfico humano. No Brasil, o cenário também preocupa: de acordo com o Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, mais de três mil trabalhadores foram resgatados de condições degradantes apenas em 2023, número recorde dos últimos dez anos.
“É inaceitável que brasileiros continuem sendo submetidos a jornadas desumanas, dormindo em galpões improvisados, recebendo salários irrisórios ou sequer tendo registro formal”, afirma Ireuda.
Salvador
A vereadora lembra que Salvador carrega uma herança direta do período escravocrata, sendo a cidade com maior população negra fora do continente africano. “A abolição não representou liberdade plena. A população negra foi lançada à própria sorte, sem acesso à terra, educação ou oportunidades. É por isso que ainda hoje enfrentamos desigualdades gritantes”, enfatiza. Ela cita dados do IBGE que apontam que pretos e pardos representam mais de 70% das pessoas em situação de extrema pobreza, além de serem as maiores vítimas de violência e desemprego.
Ireuda também destaca a relação entre racismo estrutural e violência urbana: “Quando olhamos para os indicadores sociais, percebemos que a exclusão histórica alimenta um ciclo de vulnerabilidade que atravessa gerações. A luta pela abolição completa continua, agora, sob outras formas”.
Como presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, ela chama atenção para a face de gênero do problema. “As mulheres negras são as mais exploradas em relações de trabalho precarizadas e, ao mesmo tempo, as mais vitimizadas pela violência doméstica, pelo desemprego e pela informalidade. Elas carregam sobre os ombros os resquícios mais cruéis da escravidão”, disse.
“Não basta lembrar a data. É preciso agir. A abolição tem que ser completa, real e vivida no cotidiano das pessoas. Enquanto houver um único trabalhador submetido a condições degradantes, nossa democracia estará ferida”, conclui.
Para Ireuda, o 2 de dezembro é um chamado à reflexão e à responsabilidade: “A abolição não é apenas um marco histórico; é um compromisso contínuo com dignidade humana, justiça e igualdade. E essa luta é de todos nós”.



