Petistas buscam retomar controle da CPMI do INSS e articulam convocação de Bolsonaro

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Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificaram, nos últimos dias, as articulações para recuperar a maioria na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, instalada para investigar fraudes em descontos associativos aplicados em aposentadorias e pensões. Mesmo após perderem, por 17 votos a 14, o comando da comissão — presidência e relatoria — para a oposição, deputados e senadores governistas calculam que podem reverter o cenário nas próximas votações de requerimentos.

A derrota, considerada inesperada, é atribuída internamente à ausência de três parlamentares aliados na reunião de quarta-feira (20) e à substituição deles por suplentes do PL. Líderes da base admitem falhas na articulação. Com a presença dos titulares nas próximas sessões, avaliam que será possível conquistar maioria e “controlar danos”.

O objetivo principal é evitar convocações que exponham o governo e figuras próximas ao presidente da República, como o irmão de Lula, o sindicalista José Ferreira da Silva, o Frei Chico. A estratégia inclui também barrar pedidos da oposição para ouvir ministros e dirigentes alinhados ao Palácio do Planalto.

Por outro lado, caso a base reconquiste a maioria, poderá aprovar convocações de integrantes da gestão Jair Bolsonaro (PL) e até do próprio ex-presidente. A intenção é demonstrar que, embora o esquema tenha se aprofundado nos últimos anos, teve origem ainda no governo anterior, conforme apontam investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Convocação de Bolsonaro entra no radar

Três parlamentares petistas que integram a CPMI — Alencar Santana (PT-SP), Paulo Pimenta (PT-RS) e Rogério Correia (PT-MG) — apresentaram requerimento para convocar Jair Bolsonaro. O pedido sustenta que o ex-presidente deve esclarecer “se houve falhas de coordenação ou se houve omissão deliberada frente a alertas recebidos” sobre o esquema de fraudes durante sua gestão.

“Solicita-se a convocação do então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, em decorrência da sua possível ciência das irregularidades envolvendo descontos indevidos em benefícios previdenciários desde a transição governamental em 2018, conforme declaração pública e com ampla divulgação pela imprensa feita pelo senador Izalci Lucas (PL-DF)”, afirma trecho do requerimento assinado por Rogério Correia.

O documento acrescenta ainda: “Tal circunstância impõe a esta Comissão a necessidade de apurar de forma direta o grau de conhecimento e as providências efetivamente adotadas ou omitidas pelo chefe do Poder Executivo no período em que os ilícitos se desenvolveram”.

Apesar da iniciativa governista, o pedido ainda precisa ser pautado e aprovado pelo colegiado. O cenário, porém, é adverso: tanto o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), quanto o relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), são aliados de Bolsonaro. A oposição conseguiu a vitória no comando da comissão após uma manobra de última hora.

Cenário político mais amplo

A instabilidade da base governista no Congresso preocupa aliados. A reorganização do bloco é considerada crucial não apenas para garantir maioria na CPMI, mas para avançar em votações relevantes no Parlamento. No entanto, o Centrão, tradicional fiel da balança, tem se mostrado cada vez mais volátil e acena para a construção de um herdeiro político do bolsonarismo nas eleições de 2026.

A oposição promete desgastar o governo ao longo dos próximos meses. Parlamentares bolsonaristas afirmam que irão “fazer o governo sangrar” e devem retomar críticas de que a gestão Lula permitiu descontos irregulares contra aposentados, um dos principais segmentos da base social petista, alegando demora na resposta ao problema.

Comissão em andamento

Instalada oficialmente na última quarta-feira (20/8), a CPMI foi criada em junho e tem prazo inicial de seis meses, com possibilidade de prorrogação. São 32 titulares — 16 deputados e 16 senadores. PT e PL possuem as maiores bancadas, com quatro parlamentares cada.

A expectativa é que os trabalhos sejam retomados na próxima semana, quando serão analisados diversos requerimentos apresentados tanto pela base quanto pela oposição. A vaga de vice-presidente, ainda em aberto, também deve ser alvo de uma nova disputa.

Jair Bolsonaro está em prisão domiciliar por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que apontou descumprimento de medidas cautelares. Ele está proibido de usar redes sociais e teve aparelhos eletrônicos apreendidos.

Se o pedido de convocação avançar, a CPMI poderá se tornar mais um palco de confrontos diretos entre governo e oposição em torno do legado e das responsabilidades do ex-presidente.

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