Por João Vilas Boas*
O cientista político Sérgio Abranches define o presidencialismo de coalizão como um sistema em que o presidente, para governar, precisa formar e manter coalizões multipartidárias no Congresso. Apesar de ser um conceito técnico, ele se manifesta de diversas formas: indicação de cargos, acordos suprapartidários para votações de pautas importantes para o governo e, sobretudo, nas reformas ministeriais – tema central deste artigo.
Reformas ministeriais costumam ser desafiadoras para quem as conduz, dada a complexidade de acomodar novos e antigos aliados, redistribuir cargos e orçamentos, recuperar ou ampliar a base política para aprovar agendas prioritárias ou preparar uma frente ampla para a próxima disputa eleitoral. O Brasil vive um cenário econômico frágil, com inflação elevada e uma surpreendente rejeição política ao presidente, inclusive em estados historicamente alinhados ao PT. Uma pesquisa da AtlasIntel, divulgada no início de março, indicou que 42,6% da população considera a reforma ministerial de Lula “muito necessária”. Indiscutivelmente, a renovação do governo é essencial, mas um fator preocupa: o tempo.
O tempo não é uma variável neutra; pode ser aliado ou inimigo, dependendo de como é gerido. Maquiavel, em O Príncipe, já alertava para sua importância ao afirmar que “a ocasião faz o homem”. A demora injustificada na tomada de decisões tem sido um problema. No quesito timing, o terceiro mandato de Lula tem se mostrado vagaroso. Se fosse uma partida de futebol, o governo estaria próximo da metade do segundo tempo sem grandes resultados no placar. O ambiente político transmite a sensação de uma certa paralisia sobre o que deve ser feito para fortalecer a governabilidade, podendo comprometer a reeleição em 2026.
Nesta segunda-feira (10), novos ministros tomaram posse: Alexandre Padilha, na Saúde, e Gleisi Hoffmann, nas Relações Institucionais. No entanto, ao longo dos últimos dois anos, Padilha foi amplamente criticado por líderes do Congresso e pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que o chamou de “incompetente”. No caso de Gleisi, o problema é diferente. Apesar de sua experiência em articulação política, seus posicionamentos firmes são vistos como um obstáculo para a construção de acordos, isso fragiliza o presidencialismo de coalizão necessário para garantir a estabilidade que o governo tanto necessita.
Em suma, Lula conduz uma reestruturação ministerial ao estilo caracol: de forma lenta e voltada para seu próprio círculo político. Tem se esforçado para solidificar o apoio do PSB do prefeito João Campos, que simboliza a maior renovação na política brasileira. Considera incluir Tabata Amaral no governo e cogita a entrada de Guilherme Boulos em algum ministério. No entanto, essas movimentações não apresentam novidades concretas e tornam ainda mais difícil a missão de conquistar ou manter o apoio de partidos de centro tradicionais, como PSD, União Brasil e Partido Progressistas.
Lula ainda não demonstrou compreender plenamente a essência da frente democrática que o elegeu. Seu ministério não refletiu adequadamente a diversidade desse grupo de apoio, e sua articulação política revelou fragilidades, expondo a escassez de novas ideias tanto por parte dele quanto do PT. Com uma base parlamentar numerosa, mas desorganizada e muitas vezes resistente, um Executivo enfraquecido e um Legislativo fortalecido pelo controle das emendas parlamentares, já liberado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, Lula precisará repartir mais poder – algo que historicamente evitou.
Embora o presidente tenha um histórico de recuperação em momentos críticos, como no episódio do mensalão, quando conseguiu se reeleger e eleger Dilma Rousseff, a impressão atual é de que sua margem de manobra pode estar se esgotando.
*João Vilas Boas é bacharel em Ciência Política, pós-graduado em Gestão Pública, graduando em Direito e Assessor Parlamentar.