Por João Vilas Boas*
Ulysses Guimarães, um dos grandes nomes da história política nacional, afirmava: “A política tem dessas coisas: os que ontem estavam separados, hoje estão juntos; os que hoje estão juntos, amanhã podem estar separados.” Esse dinamismo é parte natural do jogo político e essencial para a sustentação do poder.
Na eleição de 2022, a política baiana foi palco de movimentações estratégicas e rupturas significativas, como a adesão do Partido Progressista (PP), liderado pelo então vice-governador João Leão, ao grupo oposicionista.
Com a proximidade do pleito de 2026, que definirá, além da composição legislativa estadual e federal, o próximo chefe do Executivo baiano, as articulações começam a ganhar força.
Nesse contexto, o novo secretário de Relações Institucionais da Bahia, Adolpho Loyola, implementou uma estratégia bem-sucedida, articulando encontros entre diversos prefeitos e o governador Jerônimo Rodrigues. Esse movimento ajudou a amenizar uma das principais críticas à gestão petista: a falta de atendimento na Governadoria.
Embora o governador já tenha visitado mais de 200 municípios, a ausência de encontros presenciais com prefeitos no gabinete era uma queixa recorrente. No último mês, essa lacuna começou a ser preenchida, sobretudo porque muitos gestores enfrentam dificuldades na transição administrativa e precisam urgentemente do apoio estatal para viabilizar ações emergenciais.
Os encontros institucionais, contudo, extrapolaram o campo técnico e se converteram, em sua maioria, em declarações de apoio para 2026. Prefeitos de cidades estratégicas, como Brumado (Fabrício Abrantes), Guanambi (Nal Azevedo), Paulo Afonso (Mário Galinho), Coaraci (Miltinho), Teixeira de Freitas (Marcelo Belitardo) e Umburanas (Fabrício Lopes) – reduto historicamente oposicionista desde a era do PFL (atual União Brasil) – garantiram que, apesar de terem votado em ACM Neto na última eleição, estarão ao lado do governo estadual no próximo pleito.
Além dessas adesões confirmadas, um dos movimentos que mais chamaram a atenção foi a aproximação do prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), cujo nome é constantemente lembrado para compor a chapa majoritária em 2026. Mesmo que sua audiência com o governador tenha sido tratada como institucional, muitos interpretaram o encontro como um sinal de reaproximação com a base governista.
Enquanto o governo, que já havia conquistado o apoio de 309 das 417 prefeituras baianas ao final da eleição municipal, segue consolidando ainda mais alianças, a oposição enfrenta um desgaste conhecido. O principal alvo de críticas é ACM Neto, acusado de não dar a devida atenção aos prefeitos que estiveram ao seu lado em 2022. Queixas vão desde a falta de telefonemas até a ausência do ex-prefeito de Salvador em eventos tradicionais nos municípios, um contraste evidente com a hospitalidade característica de Jerônimo Rodrigues – provável adversário de Neto na disputa pelo Palácio de Ondina.
Mais do que a força simbólica do número de prefeituras sob sua influência, o governo tem adotado uma postura pragmática, antecipando-se na articulação política por meio da entrega de obras e intervenções. Se esses compromissos forem cumpridos, certamente pesarão na decisão de prefeitos e eleitores sobre quem apoiar em 2026.
A máxima política de que “não há amigos ou inimigos permanentes, apenas interesses permanentes” nunca foi tão evidente. A maioria dos municípios baianos depende fortemente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o que os torna vulneráveis financeiramente e dependentes de recursos estaduais. Naturalmente, todo gestor municipal busca deixar um legado de realizações, e nesse contexto, o apoio do governo estadual torna-se decisivo.
A combinação de ações concretas chegando na ponta com a habilidade de acolher politicamente os prefeitos têm sido bem capitalizados pelo novo chefe da SERIN. Já a oposição, enquanto observa a ampliação da base governista, segue distante de ocupar o Palácio de Ondina.
*João Vilas Boas é bacharel em Ciência Política, pós-graduado em Gestão Pública, graduando em Direito e Assessor Parlamentar.