A desembargadora do Tribunal da Justiça da Bahia Sandra Inês Rusciolelli e seu filho, o bacharel em direito Vasco Rusciolelli, dizem ter recebido ameaças e retaliações de pessoas e de instituições antes e depois de planejarem firmar a delação que implicaria em 68 nomes de magistrados, advogados, servidores públicos e empresários.
“Parte dessas suspeitas foram apresentadas às autoridades por sua defesa, seja em petições ou em documentos levados à Justiça e ao Ministério Público Federal. Sandra Inês é a primeira desembargadora do Brasil a firmar um acordo de colaboração premiada avalizado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). A colaboração foi feita após ela ser alvo da Operação Faroeste, principal investigação sobre suspeitas de vendas de decisões judicial do país. Em sua delação, Sandra Inês relata sofrer ameaças desde antes da deflagração da Faroeste, quando ainda não havia motivo para uma colaboração. Afirmou que era coagida a dar decisões favoráveis a desembargadores que são apontados como ligados ao grupo do empresário Adailton Maturino, o “falso cônsul” que tinha interesses em terras do oeste baiano”, diz Folha de São Paulo.
Uma investigação sobre a prática de “rachadinha” foi aberta sobre o seu gabinete. A defesa também trata como perseguição e diz que essa foi arquivada. Um trecho da delação, que aparece na última denúncia feita pela PGR, aponta que em um celular seu apreendido havia ameaças de morte.
Depois que foi presa, em 24 de março de 2020, os relatos de ameaças continuaram. Mesmo antes da prisão, após ser alvo de ação controlada, Sandra Inês e o filho cogitavam propor uma delação premiada.
“Minha cliente e meu cliente sofreram retaliações, pressões e vêm sofrendo desde quando foram presos. Não à toa a defesa levou ao Ministério Público e a quem é de direito ameaças sofridas pelo Vasco dentro da unidade prisional”, diz Pedro Henrique Duarte, advogado dos dois.
À PGR, a defesa dos dois disse que Vasco chegou a ser ameaçado em pelo menos três vezes na cadeia –por um advogado, por um policial e pelo irmão de um policial, este último com uma faca.
“Ela foi levada à Papuda, em Brasília, e ele ficou preso preventivamente no COP (Centro de Observação Penal), em Salvador. Em meados do ano passado, uma suposta minuta da proposta de delação premiada vazou em grupos de WhatsApp –a defesa chama de “delação fake news” e diz que não tem relação com o que sua cliente discutia com a PGR. A partir de então, Sandra Inês e seus familiares passaram a supor que o motivo de uma série de contratempos é perseguição. Na Justiça, eles têm questionado esses casos sob essa alegação”, diz reportagem da Folha.
Uma dessas situações é que o marido de Sandra Inês passou a ter problemas em contratos da sua empresa com entidades ligadas ao poder público. A outra é que Vasco, que pouco antes de ser preso pediu demissão de um cargo concursado, tentou refazer sua carteira da OAB e não conseguiu —em petição, dizem que a Ordem abriu um processo ético-disciplinar contra ele, mesmo que, na prática, ele não seja advogado, e sim bacharel em direito.
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