O não comparecimento de Teobaldo Costa, dono da rede de supermercado Atakarejo, em uma sessão conjunta da comissão de Reparação com a bancada de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Salvador, marcada para o último dia dois de maio, gerou insatisfação de parlamentares e de familiares de Bruno Barros, 29 anos, e Yan Barros, 19, que foram flagrados pelos seguranças do Atakarejo, que fica localizado no bairro de Amaralina, furtando carnes e que acabaram sendo encontrados mortos com sinais de tortura no bairro de Brotas.
O caso ocorreu no final de Abril. Vídeos com os jovens sendo torturados e mortos por traficantes do Nordeste de Amaralina circularam nas redes sociais. Uma denúncia anônima fez de que os jovens teriam sido entregues aos traficantes pelo gerente do supermercado provocou uma onda de indignação com repercussão nacional.
Uma nova convocação ao dono da rede Atakarejo foi solicitada e assinada pelo presidente da Comissão de Reparação da Câmara, vereador Luiz Carlos Suíca (PT), nesta sexta-feira (4). Teobaldo deverá comparecer na sessão a ser realizada no próximo dia 16 deste mês.
“Fizemos uma nova convocação porque sei que a rede quer ser ouvida. Não pôde comparecer por algum motivo e precisamos reforçar essa convocatória pelo fato das famílias quererem uma resposta. A nova reunião será às 9h30 do dia 16, de forma remota, como aconteceu a primeira. Para maiores esclarecimentos sobre esse caso que chocou toda a população baiana e do país, pois o crime virou um assunto nacional. Os dois jovens foram torturados e mortos com crueldade. Foram entregues por funcionários do Atakarejo, então, o dono, a meu ver, tem que ser ouvido”, declarou Suíca.
A co-vereadora Laina Crisóstomo, do mandato coletivo Laina e as Pretas (PSOL), classificou o não comparecimento de Teobaldo como uma demostração da “total” irresponsabilidade com que o dono da rede de supermercado está tratando o caso. Ela afirma que o empresário é capaz de gastar um valor alto para comprar horário nobre na TV, para emitir um comunicado, e não é capaz de participar de um ato com familiares das vítimas.
“Isso em nossa visão foi algo muito negativo. Isso mostra o quanto de responsabilidade que eles têm de tentar dialogar sobre o caso, sobre ouvir à família. E para além disso, ele gasta uma fortuna em divulgação, pedindo desculpa, em horário nobre, no intervalo do Fantástico, do Jornal Nacional, que são horários supercaros, e não comparece a sessão, em uma demonstração de total irresponsabilidade sobre isso”, criticou a co-vereadora Laina Crisóstomo, do mandato coletivo Laina e as Pretas.
A líder do bloco de Oposição na Câmara dos Vereadores de Salvador, Marta Rodrigues (PT), classificou à ausência de Teobaldo Costa como um ato de desrespeito. Ela afirmar que os membros da comissão não foram informados de sua desistência. Em nota enviada ao OFF News, a assessoria de comunicação do Atakarejo diz que um e-mail foi enviado para as comissões, avisando que o proprietário da rede não poderia comparecer: “Sr. Teobaldo Costa não compareceu por questões legais, pois o processo corre em segredo de justiça”.
No e-mail, enviado ao OFF News, não há justificativa para o não comparecimento, apenas argumentos sobre ações do Atakarejo após o ato no estabelecimento localizado no bairro de Amaralina.
“Ele não comunicou antes. Estávamos contando com a presença dele, como articulamos com familiares, a mãe de Bruno e Yan, e o presidente do sindicato dos vigilantes, que participaram. O presidente do sindicato dos vigilantes, José Boaventura, nos informou que apenas um dos seguranças envolvidos na ação estavam dentro das normas da PF, registrado. O restante não estava, o que nos leva a crê que existia uma segurança paralela, uma vigilância paralela que não respeita as normas, e nem o que recomenda o sindicato”, criticou Rodrigues.
O OFF News questionou à assessoria de comunicação do Atakarejo acerca da tal segurança paralela citada pelo presidente do Sindicato dos Vigilantes da Bahia, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
“Ele não deu nenhuma justificativa. Ele teria que ter mandado para às comissões um comunicado, avisando que não iria e até se colocando à disposição. Isso é ruim, demonstra que não tem nenhum compromisso nem com as mães. Uma das mães, a dona Dionéia afirmou que no dia anterior à sessão, pessoas ligadas ao Atakarejo ligaram para ele perguntando se ela queria alguma coisa, e ela responde que o que quer é justiça. Essa ausência mostra o desrespeito e como é que o atakarejo está acompanhando o caso, não adianta emitir comunicado em horário nobre se o proprietário não é capaz de prestar solidariedade aos familiares das vítimas. Nos queremos saber quem vai pagar por isso, nós sabemos quem está embaixo recebe ordens… Vamos lutar para esse caso não cair no esquecimento”, ressaltou Marta Rodrigues.
A parlamentar do PT avalia que o ato foi “um crime bárbaro e cruel”, que teve origem após uma “tentativa de um roubo de famélico, foram quatro pedaços de carnes, que foram fotografados, o preço de duas vidas”.
Após o inquérito ser prorrogado, a vereadora disse que o papel da Câmara será o de cobrar celeridade e justiça. Rodrigues afirma que o ato de racismo contra dois jovens negros ainda será tratado na esfera competente.
O vereador Leandro Guerrilha (PL) foi outro que classificou a atitude do empresário como desrespeitosa.
“Não só aos vereadores, mas desrespeitou a sociedade. Ele acha que está acima do bem e do mal? Ele precisa esclarecer o que aconteceu dentro de uma unidade que é de sua responsabilidade”, cobrou Guerrilha.
O parlamentar do PL ressaltou o papel do vereador na representatividade da população: “estamos fazendo isso por que o vereador representa o povo e o povo quer saber o que de fato aconteceu. Vamos precisar fazer uma convocação da Casa, através do presidente Geraldo Júnior?”.
Guerrilha ainda afirmou que vai pedir ao prefeito Bruno Reis para interceder na situação.
“Já que eles são do mesmo partido, vou pedir ao prefeito para mediar. Vamos ver se Teobaldo vai respeitar a liderança do nosso prefeito Bruno Reis”, afirmou o Leandro Guerrilha.
Leia íntegra do e-mail enviado por Teobaldo Costa à Câmara Municipal de Salvador:
Excelentíssimo senhor Presidente da Comissão de Reparação e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Salvador,
Dirijo-me a vossa senhoria para parabenizar essa entidade e a esta Comissão de Direitos Humanos por realizar Reunião Conjunta, para discutir fato tão relevante.
Inicialmente, gostaria de destacar que o Atakadão Atakarejo não compactua com os fatos ocorridos e jamais tolerou atos violentos de qualquer natureza. Diversas medidas já foram tomadas pela empresa no intuito de colaborar com as investigações e esclarecer o ocorrido o mais breve possível.
Foi instalado um processo de sindicância interna que resultou no afastamento de funcionários suspeitos de envolvimento com o fato em questão, até que as investigações sejam concluídas. A empresa também já entregou às autoridades policiais os celulares corporativos dos funcionários e as imagens das câmeras do sistema de segurança da loja do Nordeste de Amaralina. Um canal externo de denúncias operado por empresa terceirizada está à disposição da comunidade.
O Atakadão Atakarejo segue colaborando com autoridades competentes, desejando que todos os fatos sejam esclarecidos o mais rapidamente possível e que todos os culpados pelos crimes respondam por seus atos perante a justiça.
O Atakarejo possui um Código de Ética e Conduta que segue rigorosamente. A empresa atua no mercado baiano há 26 anos, gerando 6.300 empregos diretos, e repudia veementemente qualquer ato de violência, tendo sua atuação marcada pelo respeito à todas as pessoas, aos Direitos Humanos e sempre agiu com muita responsabilidade social e seriedade.
Seguimos firmes em nosso trabalho baseado sempre na transparência e com o propósito de esclarecer o mais rapidamente possível o ocorrido. Estamos à disposição desta entidade para elucidar qualquer novo fato.