Eleita com 10.448 votos, a primeira mulher negra prefeita de Cachoeira, cidade histórica e berço da independência do Brasil, Eliana Gonzaga de Jesus (Republicanos) não consegue administrar o município da forma que deseja, mais próxima da população, pelo medo de ser morta em serviço.
Eliana vive como peregrina, passando as noites em locais e cidades diferentes, com receio de sofrer uma emboscada.
Na campanha ela teve que enfrentar ameaças, xingamentos racistas e o machismo que desacreditava de sua capacidade de gestão enquanto mulher e de seu potencial político. Apesar dos ataques sistemáticos, Eliana venceu o pleito com 2535 votos à frente do segundo colocado, o prefeito de três mandatos Tato (PSD).
Dois dias após ser eleita, no dia 17 de novembro, um dos seus cabos eleitorais mais entusiástico, o carreteiro Ivan Passos, foi assassinado na porta da Delegacia Territorial de Cachoeira; a perícia mostrou que foram cerca de 10 tiros, que, por coincidência ou não, é o número do partido da qual faz parte: o Republicanos.
No último dia sete de março foi a vez do coordenador de obras de Cachoeira, Georlando da Silva Conceição, de 35 anos, que foi candidato a vereador nas eleições de 2020, ser executado durante o dia em pleno centro da cidade.
“Na histórica cidade de Cachoeira, muito importante do ponto de vista cultural na Bahia, onde há uma população predominantemente negra, era onde os donos de engenho, batiam, maltratavam os escravos; E hoje, mesmo após a abolição, parece que há algumas pessoas que se acham donas da cidade, como se Cachoeira fosse o mucambo deles”, desabafa o deputado federal e presidente do Republicanos Bahia, Márcio Marinho.
O parlamentar destaca que Eliana Gonzaga de Jesus representa os novos tempos da política, “sendo uma mulher negra, de origem humilde, pobre e vereadora de dois mandatos que, a pedido da população, que não aguentava mais a forma, o tratamento da antiga gestão, fez uma convocação para que ela concorresse na eleição e a referendou com o mandato”.
Marinho lembra que no período eleitoral Eliana já ligava para ele, reclamando das perseguições sofridas: “Além da perseguição política, das ameaças, ainda tinha discriminação racial, ficavam chamando ela de “macaca”, dizendo que prefeitura não é lugar para mulher negra e pobre”.
O presidente do Republicanos Bahia avalia que o resultado nas urnas pode ter gerado um sentimento de vingança contra a prefeita eleita, que, de desacreditada, terminou o pleito eleita com larga vantagem sobre o 2º colocado.
“Essas pessoas imaginavam que ela não ganharia as eleições, e ganhou com larga vantagem. Depois da eleição ela começou a ver seus apoiadores sendo assassinados… há alguém por trás disso, cometendo ou mandando cometer esse tipo de crime e nós cobramos da justiça uma resposta. A Secretária de Segurança Pública (SSP) precisa se aprofundar nas investigações para saber o porquê disso está acontecendo e chegar ao ou aos mandantes”, cobrou Márcio Marinho.
O parlamentar do Republicanos protocolou um ofício, na última segunda-feira (19), na SSP, endereçado ao secretário Ricardo Mandarino, solicitando uma reunião junto com Eliana, para tratar das “inúmeras ameaças de morte” que a prefeita de Cachoeira e seus familiares vêm sofrendo. Ele também já entrou em contato com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), que prometeu acompanhar o caso via secretaria de Política para as mulheres.
O OFFNews apurou que a reunião ocorrerá na próxima quinta-feira (22), às 11h.
“Na cidade todo mundo fala em crime político, perseguição política; Eu não faço suposições, apenas cobro uma resposta. Nós temos instrumentos legais para poder investigar. Estamos chamando, alertando autoridades que façam uma investigação e que cheguem ao ou aos mandante dos assassinatos. Dois apoiadores foram mortos e há várias ameaças, falam até de uma lista de pessoas para morrer; o assunto é grave, se não houver posicionamento energético, outras vidas infelizmente serão sacrificadas. Ganhamos forma democrática, queremos fazer a gestão tranquila, entregar aquilo que a população deseja de uma gestora responsável. Ontem à noite ela me ligou e falava do medo de andar na cidade, de ver membros de sua família serem mortos ou dela ser alvejada… ninguém consegue fazer uma gestão dessa maneira”, desabafou Márcio Marinho.
1 Comentário
Não desejamos, que a vida imite a arte…!!! Não queremos testemunhar, a “CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA”. Todo cuidado é pouco…!!!