Depois de realizar um encontro de dança entre pais, mães e seus bebês, a arte-educadora Katiane Negrão, 41 anos, ouviu de um pai: “Percebi o quanto eu preciso tocar mais meus filhos”. Os benefícios desse toque são inúmeros, explica a educadora, afinal dançar em família fortalece o vínculo entre os adultos e suas crias. Mas de que forma?
“Um momento lúdico se abre e convida a família a estar com a atenção em seus corpos, no corpo do outro, no movimento e no espaço/tempo. Ou seja, a importância de um momento em que estejam realmente juntos”, explica Katiane, que é uma das professoras do curso De Zero a Um: Infinitas Danças com Bebês. Com início hoje para profissionais da área, o curso exibirá o resultado de suas ações com uma mostra gratuita no dia 27, no Instagram @de.zeroaum.
Esse momento de conexão com a família é fundamental para o desenvolvimento emocional, cognitivo, das habilidades motoras e da percepção da criança, acrescenta a professora de dança e educadora do desenvolvimento infantil Rossana Alves, 61. “É quando a criança está brincando com os pais que ela se desenvolve”, destaca a especialista em Dança Criativa para Crianças e Dança para Famílias como forma de integração entre pais e filhos.
Esse processo de conexão fica ainda mais intenso no primeiro ano de vida do bebê, afinal “ele pensa que ele e a mãe são uma coisa só”, continua Rossana, que também dá aula no curso De Zero a Um. “A independência emocional da criança é um processo difícil. Por isso que quando estão juntos é muito importante para o desenvolvimento dos bebês. São momentos mágicos”, reforça.
Pego de surpresa por esse universo, o cirurgião dentista Pedro Henrique Bueno, 34, pôde experimentar esse momento mágico. Convidado a participar da Roda BMC – Bem-estar, Mente e Corpo, de Lela Queiroz, depois de um evento na Universidade Federal da Bahia (Ufba), Pedro lembra que nunca tinha escutado falar de tal técnica, mas foi receptivo ao convite.
Ele e a mulher receberam dicas sobre o desenvolvimento dos bebês, o que facilitou a educação do pequeno Ravi e ampliou a consciência do casal em relação ao universo do seu filho. “Percebemos um estreitamento dos laços afetivos entre nós. Uma conexão de amor, confiança, autoconsciência e respeito. Recomendamos muito essa troca de experiência”, indica.
Compartilhado
Para um bebê se desenvolver bem não basta ter uma boa alimentação e cuidados básicos, ressalta a psicóloga Daniele Wanderley, 51, especialista em psicopatologia do bebê e psiquiatria infantil. “É necessário que seus cuidadores consigam se comunicar ainda que o bebê não se expresse por palavras e atribua sentidos às suas experiências”, explica.
O prazer compartilhado está na base da estruturação de todas as aquisições como fala, motricidade e cognição, destaca Daniele que é diretora do Núcleo Interdisciplinar de Intervenção Precoce da Bahia (NIIP). “É através do brincar, do prazer que os cuidadores expressam com os jogos e brincadeiras que o bebê vai fixar o olhar, imitar e se interessar em se comunicar e compartilhar suas experiências”, afirma.
Portanto, Daniele reforça que ficar com os bebês no chão e acompanhar seus interesses, variar o uso dos objetos, cantar, dançar, gesticular, ou fazer jogos onde ele se veja surpreendido com as ações dos adultos é algo que vai organizar seu interesse social.
“Através da segurança do colo ou a simples presença dos pais, ele poderá organizar sua sensoriomotricidade e com isto o prazer em se deslocar, planejar, ‘resolver problemas’, investigar e explorar os objetos além de compartilhar seus interesses com os demais”, descreve a psicóloga.
Brincar
Essa brincadeira entre pais e filhos que merece mais atenção, na opinião de Rossana, já que sua experiência profissional revela uma carência no assunto. Depois de trabalhar quase seis anos em uma organização de apoio às famílias nos Estados Unidos, a educadora observou que muitos pais não sabem brincar com seus filhos, não sabem entrar no universo da criança.
“Com a tecnologia, o celular, o computador, as pessoas estão perdendo a perspectiva do brincar. O dançar está inserido nessa grande coisa que é brincar e ele ajuda nessa interação entre crianças e adultos. A partir da dança, pais e mães meio que descobrem como brincar com seus filhos”, reflete.
Katiane acrescenta que um dos aprendizados da pandemia foi o fortalecimento do que é essencial: a presença. A dança, explica a educadora, proporciona um momento de toque mais consciente do adulto para o bebê, “pois no cotidiano é muito fácil cairmos no automatismo, carregar a criança pra cá e pra lá sem nem pensarmos no que estamos fazendo”.
“Um momento de dança é capaz de proporcionar o essencial para o bebê (que nós, seres humanos, passamos o resto da vida necessitando se não o temos integralmente nesta primeira fase da vida): acolhimento, afeto, toque, presença, escuta, movimento, conexão consigo mesmo, com o outro, em especial com mãe e pai, conexão com seu ambiente, com o planeta”, resume.
Conhecimento – O bebê, assim como os adultos, aprende primeiramente pela experiência do corpo no espaço.
Escuta – Amplia a capacidade perceber seu próprio corpo e o corpo do outro.
Conexão – Proporciona um momento de afeto entre bebês e seus responsáveis.
Cognição – Estimula a coordenação motora, o desenvolvimento cognitivo e amplia o repertório de movimento.
Emocional – Ajuda o emocional da criança, ela se sente mais segura, mais autoconfiante.