Troca de etiquetas de bagagem, manipulação da gravação de imagens de segurança e exploração do acesso a áreas restritas do aeroporto internacional de Guarulhos (SP) fizeram parte de um esquema de tráfico de drogas denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF). Os atos criminosos eram executados por um grupo de 15 pessoas que trabalhavam em empresas responsáveis pelo transporte de bagagens, por mantas usadas pelos passageiros e pela operação de rampas.
A denúncia decorre da operação Área Restrita e envolve três apreensões de massa de cocaína, uma delas em território português. A primeira ocorreu em 16 de abril de 2019, quando uma mala contendo quase 30 kg de massa do entorpecente foi localizada em uma aeronave com destino a Lisboa, em Portugal. Funcionários da companhia aérea perceberam que o volume, com excesso de peso, não constava da lista de bagagens.
As investigações revelaram que Caio Paglioni de Oliveira, um dos denunciados, havia retirado a etiqueta da mala despachada por um passageiro, colando-a em outra bagagem contendo a droga. Um operador de rampa tentou embarcá-la e filmava o procedimento, atitude considerada suspeita.
A segunda apreensão foi feita em 8 de abril, também em um voo para Portugal. Novamente o que chamou a atenção foi a diferença no peso, desta vez nas sacolas que continham as mantas que seriam disponibilizadas para os passageiros. Embora estivessem lacradas, duas delas continham, no total, pouco mais de 30 kg de massa de cocaína.
Naquela data, o esquema envolveu malotes da empresa terceirizada responsável pelas mantas. Um caminhão, dirigido pelo acusado Anselmo Gonçalves Lourenço, não foi devidamente inspecionado pelos vigilantes Paulo Roberto de Lima Silva e Felipe Marques da Silva, também denunciados, e estacionou no local reservado para a empresa. Ao seu lado, parou um veículo que fez o transporte dos pacotes para a aeronave.
Cooperação internacional – Em 1º de julho de 2019, o tráfico ocorreu com o embarque de malas irregulares. A Polícia Federal já estava atenta às atividades dos então investigados e monitoraram sua movimentação. Lourenço mais uma vez entrou com o caminhão que deveria levar as mantas, estacionou no local destinado à empresa e ficou aguardando. No lugar de ir diretamente para a aeronave, o denunciado Celso Serra fez uma manobra com o trator com as bagagens para passar onde estava Lourenço, estacionou de forma a dificultar a visualização pelas câmeras de segurança e carregou o trator com malas que estavam no caminhão.
Alertada pela Polícia Federal, a companhia aérea inspecionou duas bagagens. Lourenço e outro denunciado, Antônio Severo, perceberam que o bulk (bagageiro) do avião estava sendo reaberto e se aproximaram do avião na tentativa de acompanhar o que estava acontecendo. Para não chamar mais a atenção e prejudicar as investigações, optou-se por solicitar a ajuda da polícia portuguesa. A aeronave partiu e, ao pousar em Lisboa, toda a bagagem foi vistoriada, resultando na apreensão de três malas com 90 tabletes de cocaína (mais de 98 kg de massa).
Para o MPF, as investigações revelaram que “os denunciados, em comunhão de interesses, organizaram-se em perfeita associação estável para fins de praticar tráfico internacional de drogas, embarcando, de forma clandestina, malas e volumes que continham a substância entorpecente”, cujo destino era sempre a cidade de Lisboa.
Denunciados:
– Caio Paglioni de Oliveira, Edson Luiz da Paixão, Emerson Tiago de Melo, Fábio Luiz Setti, Felipe Marques da Silva, José Sérgio dos Santos, Klaus Francis Gomes, Luciano Barbosa Ferreira e Paulo Roberto de Lima Silva (crimes de associação para o tráfico internacional de drogas e tráfico internacional de drogas; apreensão de 29,994 kg de massa de cocaína em 16 de abril de 2019);
– Anselmo Gonçalves Lourenço, Diego Alves da Silva, Felipe Marques da Silva, Klaus Francis Gomes, Paulo Roberto de Lima Silva e Ronaldo da Silva Rocha (crimes de associação para o tráfico internacional de drogas e tráfico internacional de drogas; apreensão de 30,090 kg de massa de cocaína em 18 de abril de 2019);
– Anselmo Gonçalves Lourenço, Antônio Severo das Neves, Celso Serra, Felipe Henrique dos Santos Cardoso, Felipe Marques da Silva, Klaus Francis Gomes e Paulo Roberto de Lima Silva (crimes de associação para o tráfico internacional de drogas e tráfico internacional de drogas; apreensão de 98,9 kg de massa de cocaína em 1º de julho de 2019).
Íntegra da denúncia.
Fonte: Ministério Público Federal